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em inconstante definição.

quinta-feira, abril 27, 2006

Vamos usar vereadores como cobais?Fritz Utzeri

"Ela foi conhecida como Gaiola de Ouro nos anos 50. Já tinha fama de antro de corrupção. Agora poderia ser chamada de Gaiola dos Loucos (sem prejuízo da corrupção), devido à aprovação de uma lei que proíbe experiências científicas usando animais. A Lei 325 do vereador Cláudio Cavalcanti, se não for derrubada pelo prefeito Cesar Maia, poderá paralisar até 70% das pesquisas biomédicas em andamento no Rio. Convém lembrar que a maior instituição de pesquisa biomédica do Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz, fica na cidade. O vereador é um mentecapto, junto com sua mulher, Maria Lúcia Frota, a mesma que, indicada como secretária de Proteção Animal pelo prefeito, nomeou um cachorro como oficial de gabinete. (O pior é que o cão foi, provavelmente, o mais inteligente, aplicado e íntegro ''funcionário'' do gabinete.) Alega o edil que hoje em dia a pesquisa com animais não é necessária à ciência, o que é uma idiotice. É assombroso que pessoas sem o menor preparo ou informação possam legislar sobre matéria que desconhecem por completo. O que eles querem? Que os testes sejam feitos em humanos? Talvez o vereador se apresente como voluntário e tenho certeza de que a ciência seria bem servida se a Gaiola fosse transformada em biotério. E os vereadores que votaram tal lei fossem postos à disposição dos cientistas para testar vacinas e medicamentos, antes de liberá-los para uso dos racionais.
Conheço uma cientista de Manguinhos que teve que abandonar uma linha de pesquisa de anos sobre Doença de Chagas porque uma alucinada, de uma ONG que mistura proteção animal com ufologia, processou-a por usar gambás em seu trabalho. O gambá é um animal que fascina os cientistas. O interesse é devido ao fato de que o bicho tem um sistema imunológico tão extraordinário que, contaminado por qualquer doença capaz de matar outros animais (e o homem), como o vírus da raiva, neutraliza todas elas, e vive muito bem, embora continue infectado. Não há dúvida de que existe crueldade em laboratórios, mas isso é exceção, produto de algum desvio de conduta e de caráter e sujeito a sanções. A comunidade científica obedece a protocolos estritos elaborados para evitar o sofrimento de cobaias. Os laboratórios são fiscalizados permanentemente por comissões de ética, como ocorre em Manguinhos e nas universidades. Sou contra, por exemplo, a vivisseção em aulas de medicina e biologia. Quando estudei medicina odiava essas práticas, aí sim desnecessárias por não se tratar de ciência, mas de mera demonstração. Porém, como evitar o uso de bichos em cirurgia experimental? Ou será que deveríamos usar meninos de rua antes de operar gente? Se o mix de vereador e ex-canastrão global estiver de fato preocupado com o bem-estar animal, por que não dá uma olhada em granjas onde milhares de galinhas são enjauladas, dia e noite, em grupos de três ou mais, presas, sem poderem se mover ou ver a luz do sol, pondo ovos e mais ovos, até a morte, tendo inclusive seus bicos cortados para que, no estresse e no desespero, não se matem a bicadas? Por que não vê as granjas onde os animais não podem sequer dormir, mantidos em ambientes com luz 24 horas por dia, superalimentados e ''bombado'' com hormônios de crescimento, para serem abatidos na metade do tempo que levaria o seu desenvolvimento normal e entupidos de antibióticos? Essas aves, consumidas, são nocivas à saúde por causa dos hormônios e dos antibióticos, que criam cepas de superbatctérias. De onde esse sujeito acha que saiu a gripe dos frangos que nos ameaça? "
E ele ainda tem o topete de afirmar que os cientistas ''vivem nababescamente fazendo pesquisas inócuas''. Essa descrição se encaixa - à perfeição - na atividade dos vereadores. O que eles fazem de útil, além de distribuir comendas, dar nomes a ruas, fazer decretos idiotas? Vereador, em país civilizado, é atividade não remunerada. Aqui virou profissão e fonte de negócios. Garanto que, se fechassem a Gaiola de Ouro e empregassem o dinheiro na construção de escolas e no ensino de ciências, o Rio e o Brasil sairiam ganhando e muito. Fonte: Jornal do Brasil".
Não sei onde vamos parar num mundo onde um cachorro ou um camundongo valem mais que um ser humano.Fiquei horrorizada com uma reportagem do Fantástico a esse respeito, acho que no domingo de Páscoa (e olha que nunca vejo Fantástico, nem nda na Globo, tenho os 2 pés atrás-e talvez uma mão- com esses meios de comunicação em massa que ditadores de opniões). Quem acha que seu totó vale mais, desculpe mais esses deveriam virar baratas, ou algo pior e serem devorados por algum predador faminto.Tenho gatos (Ares e Billy) e um cão (Jack), eles são muito queridos, porém preferiria vê-los em laboratórios do que ter um inimigo meu servindo de grupo teste pra água mineral.

sexta-feira, abril 21, 2006

.... ....

Eu acordada desde 4:00hs...céu cinza e essa chuva de pinga-pinga que não tem um relâmpago e não cai logo forte..Chuva indecisa...Ares olha a chuva, sentando na janela.É meio louco para um gato, mas tenho certeza que ele adora chuva e pensa seriamente em tomar um banho numa chuva forte qualquer dia desses...Estou impaciente e minha cama parece tão grande que poderia passar o dia inteiro rolando e não chegaria ao fim...
Ouvindo Placebo...O Ares também gosta.Leo Frasson diz que é música pra cortar os pulsos.Ainda bem que estou contente demais pra isso.

Without you I'm nothing (Placebo)

Strange infatuation seems to grace the evening tide
I'll take it by your side
Such imagination seems to help the feeling slide
I'll take it by your side
Instant correlation sucks and breeds a pack of lies
I'll take it by your sideOversaturation curls the skin and tans the hide
I'll take it by your side
Tick tock
Tick tock
Tick tick
TickTick
Tick tock
I'm unclean, a libertine
And every time you vent your spleen
I seem to lose the power of speech
You're slipping slowly from my reach
You grow me like an evergreen
You've never seen the lonely me at all
I
Take the plan, spin it sideways
I
Fall
Without you I'm nothing
Without you I'm nothing
Without you I'm nothing
Take the plan, spin it sideways
Without you I'm nothing at all...

quarta-feira, abril 12, 2006

Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo II

"Falar é completamente fácil quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá. Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado. Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz. Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer. Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais. Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração. Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil. Fácil é dizer "oi" ou "como vai?" Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas... Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa. Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama. Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas. Fácil é ditar regras. Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros. Fácil é perguntar o que deseja saber. Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta. Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria. Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro. Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro. Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado. Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho. Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata. "

Texto atribuido a Carlos Drummond de Andrade...Achei num blog por aí.

Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo

Hoje, no teatro, duas amigas minhas nutriram um amor-de-uma-hora por um pianista (pertencente a um conservatório francês...).Como elas iriam emborar antes do fim da apresentação, fiquei dizendo que pediria para ele autografar meu programa e assim chegaria bem perto dele.Elas ficaram eufóricas.Daí um amigo meu comentou um pouco desdenhoso:
"Mulher gosta de um amor platônico..."
Juro que eu ia revidar mas lembrei que não podia.Eu também tenho um desses "amores" impossíveis.Mas eu senti uma necessidade de calá-lo, como se alguém fosse descobrir meu segredo se ele comentasse isso outra vez.De repente,um insight:ele também tinha uma paixão assim, platônica, e tratei de lembrá-lo disso.Voltando para casa, conversamos sobre a paixão dele e fiquei sem entender como acabamos adorando alguém que só o fato de estar existindo e feliz nos deixa felizes...Eu queria ter uma fórmula "anti-amorplatônico".Aliás, queria criá-la, talvez ficasse rica!Lembrei de um poema de Camões, saido dos baús secundaristas de minha memória....

Transforma-se o amador na coisa amada

Por virtude do muito imaginar;

Não tenho, logo, mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,

Que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,

Que como o acidente em seu sujeito

Assim com a alma minha se conforma

Está no pensamento como ideia;

E o vivo e puro amor de que sou feito

Como a matéria simples busca a forma.

sábado, abril 08, 2006

Decifra-me ou Devoro-te... (ou reflexões filosóficas a respeito de um barquinho)

Reflexões filosóficas?tô ficando pretensiosa....rs
Era uma manhã em que eu não sairia de casa por nada, talvez fosse a TPM, talvez não fosse coisa alguma.Eu apenas quis ficar em casa...Tenho que aproveitar enquanto ainda me cabem esses desatinos.Assim, fiquei no MSN com um amigo, tentando abstrair as nuvenzinhas negras, cheias de relâmpagos, que vez por outra pairam sobre mim.Desenhei um barquinho horroroso para ele.Feio e frágil, não sobreviveria a um tênue beijo do mar...Meu amigo não assustou-se com a feiúra do barco.Ou pelo menos não demonstrou, apesar de ter feito um muito legal depois (é, pensando bem, acho q essa foi sua maneira de dizer o quanto estava feio: fazendo um bonito...)Eu disse a ele que costumava a rabiscar barcos em tudo que era papel.Barcos e meu nome, principalmente se estivesse distraída...
"-E qual a explicação da Annie a respeito?" - alguns minutos atrás, nos imaginávamos os felizes ganhadores da megasena acumulada.Num momento inter-devaneios, eu disse que estávamos entrando em surto psicótico, segundo a minha irmã me dissera uma vez...)
"-Solidão..." - parece dramático mas escutei isso dela e de muitas outras pessoas, sobre essa minha mania de rabiscar barcos, mesmo sem perceber.
daí, ele me disse:
"- De que adianta ser um navio em alto mar que sabe para onde vai mas não sabe onde está."

Segundo esse amigo, isso é um ditado.Eu não conhecia, mas gostei muito.Costumo pensar se as pessoas se dão conta disso.Que a vida é mais do que acordar, beijar a esposa(o) (quando beija...), tomar café, deixar as crianças na escola, ir ao trabalho,voltar para casa, perguntar como foi o dia da família(quando pergunta...), ir pro quarto, fazer amor(mais um se...), dormir e...Com algumas variações, é a vida de milhões de pessoas.Autômatos.E sempre tive medo que um dia fosse a minha...
Raramente alguém se pergunta onde está.Parece nem ser tão interessante assim essa informação.Sabemos onde queremos chegar.Família perfeita, chefia de uma empresa ou repartição,ficar famoso, ter mais de 15 salários de rendimento, largar tudo e ir morar no campo/praia,casar, ser seu próprio patrão...
Por vezes, fazemos até o mapa da estrada mas quando é pra assinalarmos o ponto em que estamos, nova complicação.Já passamos do castelo daquele terrível rei e ainda estamos esperando que ele surja depois da próxima colina e daí não ligamos a mínima para a paisagem (campos floridos, o sol beijando nosso rosto, as oportunidades...).Ou achamos que já se passaram todos os pântanos e cavalgamos alegres e intrépidos rumo ao atoleiro mais próximo...E há aqueles que andam apenas pela impaciência de ficarem parados.Mesmo quando se tem certeza de estar na trilha escolhida, a estrada real, cercada por trigais,há poucas milhas da vila mais próxima - onde pode-se descansar das inquietações cotidianas- sempre haverá um "desinformante", um ser não-requisitado, para contestar a precisão do mapa, a escolha do caminho, os benefícios do lugar onde se quer chegar e até o que está plantado à beira da estrada: melancias e não trigo! ("É que parece muito, sabe como é...").
E tudo pode ser pior se o barco não souber que é barco...
"Deus ri de nós",diz Jostein Gaarder, através do pai do pequeno Hans-Thomas em "O dia do Curinga":
“-Você sabe o que sua avó me disse um dia? Ela disse ter lido na Bíblia que Deus está lá no céu e ri das pessoas que não acreditam nele.
-E por quê? – perguntei, Perguntar era sempre mais fácil que responder.
-Muito bem... -começou meu pai. -Se há um Deus, que nos criou, então de uma certa forma somos ‘artificiais ‘ aos seus olhos.Falamos besteiras, discutimos e brigamos entre nós.Depois nos separamos e morremos, compreende?Somos superinteligentes: sabemos construir bombas atômicas e foguetes para ir à Lua.Mas nenhum de nós se pergunta de onde veio.Simplesmente se contenta estar por aqui, dividindo com os outros esse espaço.
-É nessa hora que Deus ri de nós?
-Exatamente. Se nós fôssemos capazes de criar um ser artificial, Hans-Thomas, nós também iríamos rachar o bico de rir se esse ser artificial saísse por aí falando um monte de bobagens sobre os índices da bolsa de valores ou sobre corridas de cavalos, por exemplo, sem se perguntar a coisa mais simples e mais importante de todas: De onde é que eu vim?”

De onde é que eu vim?Onde eu estou?O que há por trás do que demosntro ser? É bem cômodo não pensar sobre isso e implesmente esquecer todas essas coisas. Mas não é muito inteligente fazê-lo.Não que as respostas nos caiam aos pés.Nossos problemas, nossos anseios cotidianos não serão prontamente resolvidos se nos perguntarmos sobre nossa razão de ser..Talvez nunca haja um consenso interno – ou até mesmo externo, se conversamos sobre nossas dúvidas e certezas.
“Decifra-me ou devoro-te!”- a esfinge que assolava
Tebas está em cada um e nós somos o nosso enigma e precisamos resolvê-lo.
E aqueles que não se perguntam, é que já foram devorados.

Tá, eu sei que muita (mais muita mesmo) gente mais gabaritada que eu já escreveu sobre o tema, não sou tão pretenciosa para achar ter dito algo que nunca tenha sido dito, novas idéias, novas teorias,algo brilhante...Mas passei dias pensando em meu barquinho, em meio ao mar,frágil e feio, que até tem bússola e cartas de navegação mas, de vez em quando, não acerto lê-los.