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em inconstante definição.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

"- Sei um encanto que pode curar dor e doença, e que pode tirar o sofrimen­to do coração daqueles que sofrem. Sei um encanto que cura com um toque. Sei um encanto que faz as armas do inimigo se virarem pro outro lado. Sei outro encanto que me solta de todas as amarras e abre todas as fechaduras. Um quinto encanto: eu consigo pegar uma flecha no ar e não me machucar.
As palavras soavam pesadas, urgentes. O tom amedrontador não estava mais lá, o sorriso cínico também não. Wednesday falava como se recitasse as palavras de um ritual religioso, ou como se estivesse se lembrando de alguma coisa obscura e dolorida.
- Um sexto: feitiços feitos pra me machucar só vão machucar quem os enviou. Sétimo encanto que eu sei: posso apagar o fogo apenas olhando pra ele. Oitavo: se algum homem me odiar, eu consigo ganhar sua amizade. Nono: eu posso fazer o vento dormir com o meu canto e posso acalmar uma tempestade durante tempo suficiente pra levar um barco até a costa. Esses foram os primei­ros nove encantos que eu aprendi. Durante nove noites eu fiquei pendurado na árvore nua, a lateral do meu corpo perfurada pela ponta de uma lança. Eu ba­lançava de um lado pró outro e sacolejava aos ventos frios e aos ventos quentes, sem comida, sem água, um sacrifício de mim pra mim mesmo, e os mundos se abriram. Como décimo encanto, eu aprendi a dispersar bruxas e fazê-las rodo­piar no céu de modo a nunca mais encontrarem seu caminho de volta às suas próprias portas. Décimo primeiro: se eu cantar quando uma batalha eclodir, posso fazer com que guerreiros passem pelo tumulto ilesos e intactos e posso trazê-los de volta a suas famílias e a seus lares sãos e salvos. Décimo segundo encanto que sei: se eu vir um homem enforcado, posso tirá-lo da forca pra que sussurre no nosso ouvido tudo de que consegue se lembrar. Décimo terceiro: se eu jogar água sobre a cabeça de uma criança, ela não vai sucumbir na batalha. Décimo quarto: sei os nomes de todos os deuses. De cada um dos malditos. Décimo quinto: sonho com poder, com glória, e com sabedoria, e eu posso fazer as pessoas acreditarem nos meus sonhos.
A voz dele estava tão baixa agora que Shadow precisava se esforçar para ouvi-lo por sobre o barulho do motor do avião.
- Décimo sexto encanto que sei: se preciso de amor, posso transformar a mente e o coração de qualquer mulher. Décimo sétimo: nenhuma mulher que eu desejo vai desejar alguém mais na vida. E eu ainda sei um décimo oitavo encanto, que é o maior de todos, e esse eu não posso contar pra nenhum ho­mem, porque um segredo que ninguém mais além de você sabe é o segredo mais poderoso que pode existir.
Ele suspirou e então parou de falar." 
Sr. Wednesday. Deuses Americanos. Neil Gaiman.

Parece o Havamal, do qual na época eu conhecia uns trechinhos -não esses para mim similares às palavras do Wednesday. Mas na hora, deu uma sensação estranha de coisa antiga... 

Desde cedo, pensei em olhá-la ao anoitecer. Não foi bem como imaginei mas, pela primeira vez em muito tempo, olho pra ela e não me sinto em pedaços. Não somos eu e ela faltando algo. Ela agora é começo e estou indo, tenho certeza disso. 

domingo, janeiro 11, 2009

espera ou algo de tolo enquanto seguem as horas.

Fui ao UNICEUMA acompanhar mais uma pobre vítima. Vestibular. Enfermagem. Levei "Coisas Frágeis. Reler O Monarca do Vale. Fiquei com saudades. Talvez o Mauro tenha razão e realmente eu seja apaixonada pelo Shadow.
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Aconteceu  o inevitável. Chuva e ruas lamacentas me fizeram sair de salto. É incrível o frisson que um pedaço de pano a menos e uns centímetros a mais podem causar. Se bem que o que eu quero são botas de alpinista. Moto e tornozelo exposto não são as melhores combinações e tenho que pensar em tudo isso antes de me dirigir a uma concessionária.
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A vida é uma pilhéria. Eu vivo reclamando dos que fazem e cá estou eu fazendo. Sei que ao crime, o castigo. Mas não quero (quem quer?). Agora que Inês é morta, perguntar o que se fez no verão passado não adianta. 
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Vi duas enormes e toscas imitações de O Pensador. Céus, eu adoro Rodin (tudo bem, mais que a  ele eu adoro a  Camille Claudel). Me choca a deformação. É notório que eu detesto cantadas mas a melhor dela e única que deu certo, foi de alguém que me olhou além do óbvio -e das roupas- e disse que eu parecia uma escultura de Rodin. Foi certeira. É, na época eu até merecia. Sim, mas voltando aos aleijões que tentam imitar a arte, meus olhos marejaram de indignação ante as esculturas. Seria isso uma tentativa - quiçá frustrada - de algo subliminar? Pensem, pensem pensem... Ou algo mais zumbi cérebro, cérebro, cérebro. Dado o lugar onde estão, eu dialogo com meus pobres botões sobre as estatísticas (inferência baeysiana, talvez seja o mais indicado) e se o percentual de entendimento/aceitação foi satisfatório.
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Eu não queria ser tão complicada. Juro que nao queria. E nem me acho. Por esses dias, me descreveram como portadora de um transtorno de múltiplas personalidade, com muito in: insegura, inconstante, infantil. Eu mereço.

sábado, janeiro 03, 2009

Cinza-tarde


Somos donos de nossos atos,
mas não donos de nossos sentimentos;
Somos culpados pelo que fazemos,
mas não somos culpados pelo que sentimos;
Podemos prometer atos,
mas não podemos prometer sentimentos...
Atos sao pássaros engailoados,
sentimentos são passaros em vôo.


Mário Quintana

(do seu blog para o meu.).

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Tempo ou lições a uma procrastinadora

A Vida(Mário Quintana)

A vida são deveres que nós trouxemos
pra fazer em casa.
Quando se vê já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, passaram-se 50 anos!
Agora, é tarde demais
para ser reprovado...
Se me fosse dada, um dia,
outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente
e iria jogando, pelo caminho,
a casca dourada inútil das horas...
Dessa forma eu digo, não deixe
de fazer algo que gosta devido
a falta de tempo.
A única falta que terá,
será desse tempo que
infelizmente não voltará mais".