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em inconstante definição.

sexta-feira, julho 22, 2011

É espantosa minha falta de capacidade de julgamento em relações familiares. Ou minha excessiva credulidade, preocupação. Ou todo o tempo que perco tentando encontrar soluções para seres alheios ao que vivem, preocupando-me com coisas que eles mesmos deixarão para trás em alguns instantes.

Como tudo começou ou "povo que não conhece sua história.."

quarta-feira, julho 20, 2011

ó que bonitinho esse doodle!
Quanto ouvi falar em Mendel, confesso que foi amor a primeira aula de Biologia. Mas, depois apareceria Morgan e roubaria minha atenção....rs
O saudoso professor Valdir Edson Soares falava dos experimentos de Morgan para do (antigo) 1º ano do 2º grau de tal maneira que realmente fiquei interessada (na época, nem imaginava que faria minhas próprias extrações de DNA...)
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sono
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terça-feira, julho 19, 2011

Os outros - Neil Gaiman



"O tempo é fluido por aqui", disse o demônio.

Soube que era um demônio no momento em que o viu. Ele apenas sabia, assim como tinha consciência de que aquele local era o Inferno. Não havia outra possibilidade de existência para ambos.

A sala era longa, e o demônio o esperava próximo de um braseiro fumegante na ponta oposta. Uma miríade de objetos encontava-se pendurada nas paredes pétreas, sendo que não parecia inteligente ou tentador analisá-los com maior minúcia. O teto era baixo; o chão, estranhamente etéreo.

"Aproxime-se", disse o demônio, e ele obedeceu.

O demônio estava nu e inclinado. Possuía cicatrizes profundas, e sua pele parecia ter sido arrancada à força em algum ponto de seu passado distante. Não possuía orelhas, não possuía sexo. Seus lábios eram finos e austeros, e seus olhos eram verdadeiramente demoníacos: haviam visto demais e ido longe demais; sob seu olhar, o homem se sentia mais insignificante do que um verme.

"O que acontece agora?", perguntou.

"Agora," disse o demônio, em uma voz desprovida de angústia e regozijo, dona unicamente de uma resignação seca e aterrorizante, "você será torturado."

"Até quando?"

O demônio balançou a cabeça e permaneceu em silêncio. Andou devagar, rente à parede, examinando um dos instrumentos pendurados nela, e então outro. Na outra ponta da parede, próxima à porta, jazia um flagelo de nove pontas, feito de arame farpado gasto. O demônio o pegou com a sua mão de três dedos e retornou à outra ponta da sala, carregando-o reverentemente. Colocou as pontas do flagelo no braseiro, e observou-as enquanto começavam a esquentar.

"Isso é desumano."

"Sim."

As pontas do flagelo brilhavam em um laranja mórbido.

Enquanto levantava o braço para desferir o primeiro golpe, afirmou que "Na hora certa, você se recordará desse momento com ternura."

"Mentiroso."

"Não," disse o demônio, "A próxima etapa", explicava enquanto desferia a chicotada, "é pior."

As pontas do flagelo pousaram sobre as costas do homem com um estalo e um chiado, perfurando através das roupas caras, queimando, despedaçando e rasgando a cada golpe e, não pela última vez naquele lugar, arrancando gritos.

Havia duzentos e onze instrumentos nas paredes daquela sala, e era sua sina experimentar cada um deles.

Quando, finalmente, a Filha Lázara - a qual acabou por conhecer de forma íntima - fora limpa e posta na parede no ducentésimo décimo-primeiro suporte, o homem soluçou com seus lábios arruinados: "E agora?"

"Agora," disse o demônio, "a verdadeira dor começa."

E começou.

Cada ato que não deveria ter sido posto em prática. Cada mentira contada - para si, ou para outrem. Cada pequena ferida, e todas as grandes. Tudo fora arrancado de suas entranhas, detalhe por detalhe, lentamente. O demônio destruiu o manto do esquecimento, rasgando-o até a verdade se sobressair, e aquilo doeu mais do que tudo.

"Diga-me o que você sentiu enquanto ela saía pela porta," afirmava o demônio.

"Senti meu coração se estilhaçando."

"Não," afirmou o demônio, sem ódio, "diga-me a verdade."

"Senti alívio, pois a partir de então ela nunca saberia que eu transava com a irmã dela."

O demônio desmanchou a vida de sua vítima momento por momento, relembrando-a de todos os instantes desconfortáveis. Aquilo durou cem anos, talvez mil - ambos tinham todo o tempo do mundo naquela sala cinzenta - e, perto do fim, o homem concluiu que o demônio estava certo: a tortura física fora mais gentil.

E então, a tortura se encerrou.

E, no mesmo momento em que se encerrara, se iniciou novamente. Havia o sentimento de que a primeira vez jamais ocorrera, o que de alguma maneira tornava tudo muito pior em seus olhos.

A partir de então, a cada palavra balbuciada, o ódio do homem em relação a si mesmo aumentava. Não havia dentro de si lugar para mentiras, fugas ou qualquer outro elemento que não fosse a dor e a cólera.

E então, deixou as palavras correrem de sua boca. Parou de derramar lágrimas por elas. Quando decidiu parar, um milênio depois, rezou para que, naquele momento, o demônio se dirigisse à parede e escolhesse a faca de esfolar, ou a mordaça, ou até mesmo os parafusos.

"Mais uma vez," disse o demônio.

Era como descascar uma cebola - mais uma camada que ocultava a vítima era destruída. Desta vez, aprendeu sobre consequências. Aprendeu sobre os resultados daquilo que praticara; tomou consciência de coisas para as quais estava cego ao colocá-las em prática; as maneiras pelas quais tornou o mundo algo pior; os danos causados a pessoas que nunca conhecera, encontrara ou tinha consciência da existência. Fora a mais dura lição até então.

"Mais uma vez," repetiu o demônio, passados mil anos.

A vítima se ajoelhou no chão, em frente ao braseiro, contorcendo-se suavemente de olhos fechados enquanto contava a história de sua vida. Experimentava-a novamente assim que a recontava - do nascimento à morte, com uma fidelidade ímpar à verdade, sem se esquecer de nada e suportando cada momento. Seu coração se abriu.

Quando terminou, sentou-se de olhos fechados, esperando a voz demoníaca dizer "mais uma vez", mas nada aconteceu. Abriu os olhos.

Se levantou devagar. Estava sozinho.

Na outra ponta da sala, havia uma porta. Ela se abriu.

Um homem passou por ela. Havia terror em sua face, bem como arrogância e orgulho. Vestia roupas caras, e hesitou em dar os primeiros passos dentro da sala longa e cinzenta.
Então, compreendeu.

"O tempo é fluido por aqui", disse ao recém chegado.

terça-feira, julho 12, 2011

curtas

Tese entregue.
Impressoras tem vontade própria. Mesmo!
Tenho duas semanas para superar o medo.
Cientistas não gostam de árvores.Minha casa parece a Papelândia.
Pós-graduação não é pra todo mundo. Sabe os dizeres no Portal do Inferno, em Divina Comédia? "Deixai toda esperança, ó vós que entrais!" = Isso é pós-graduação!
Se eu falasse dos quilos e cabelos brancos a mais e dos amigos a menos isso seria constrangedor!!

terça-feira, julho 05, 2011

UFMA apura denúncia de racismo na instituição

Por Ricardo Valota, do estadão.com.br, estadao.com.br, Atualizado: 5/7/2011 5:26
SÃO PAULO - A administração da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) solicitou abertura de um processo administrativo disciplinar para apurar denúncias, partidas de estudantes do curso de Engenharia Química, sobre atitudes supostamente racistas do professor José Cloves Verde Saraiva contra o africano Nuhu Ayuba, inscrito na disciplina Cálculo Vetorial.Uma cópia da denúncia foi entregue ao Ministério Público Federal.
Na petição pública feita pelos alunos, eles afirmam: 'Informamos que o professor Cloves Saraiva vem sistematicamente agredindo nosso colega de turma Nuhu Ayuba humilhando-o na frente de todos os alunos.
Na entrega da primeira nota o professor não anunciou a de nenhum outro aluno, apenas a de Nuhu, bradando em voz alta que 'tirou uma péssima nota'. Por mais de uma vez o professor interpelou nosso colega dizendo que deveria 'voltar à África' e que deveria 'clarear a sua cor'.
Em um outro trabalho de sala o professor não corrigiu se limitando a rasurar com a inscrição 'Está tudo errado' e ainda faz chacota com a pronúncia do nome do colega relacionando com o palavrão 'No c.'; disse que o colega é péssimo aluno por que 'somos de mundos diferentes' e que 'aqui, diferente da África, somos civilizados' inclusive perguntando 'Com quantas onças já brigou na África?'.
Nuhu não retruca nenhuma das agressões e está psicologicamente abalado, motivo pelo qual solicitamos que esta instituição tome as providências que a lei requer para o caso'.
O reitor Natalino Salgado afirmou que 'é lamentável a ocorrência de fatos dessa natureza em qualquer instância pedagógica, ainda mais em uma universidade pública, como a UFMA', e que, segundo ele, 'vivencia dias de grandes conquistas no processo de inclusão social e de acordos internacionais que favorecem a mobilidade estudantil, assim como a docente'. 'Temos pautado nosso trabalho no respeito e na dignidade humana; e não partilharemos de atitudes que se caracterizem em retrocesso e vergonha para a nossa sociedade.
Os estrangeiros, assim como todos os outros estudantes, têm o nosso apreço e respeito. Vamos continuar honrando os acordos educacionais e culturais assumidos pela Universidade e pelo Governo Brasileiro com outros países', disse.
Segundo ainda nota divulgada pela reitoria, 'a UFMA disponibiliza anualmente duas vagas de cada curso, no período diurno, para o PEC-G, Programa de Estudantes-Convênio de Graduação, que oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais.
Desenvolvido pelos ministérios das Relações Exteriores e da Educação, em parceria com universidades públicas - federais e estaduais - e particulares, o PEC-G seleciona estrangeiros, entre 18 e 25 anos, com ensino médio completo, para realizar estudos de graduação no país'.
Em retratação pública em relação à interpretação do ocorrido pelos alunos, o professor pediu desculpas. Sobre as denúncias, Cloves afirma que houve um mal entendido, sobre o qual pede desculpas ao estudante Nuhu Ayuba e aos colegas de classe.
'Jamais tive intenção discriminatória, de qualquer espécie, mesmo porque sou, como muitos brasileiros, descendente de africanos, inclusive a minha avó era de Alcântara/MA. Acredito no potencial de todos, e o que exijo como docente é que os estudantes tenham compromisso com o conteúdo da disciplina e com a participação e frequência às aulas', destacou Saraiva.
José Cloves Verde Saraiva, 57, é Professor Associado III, do Departamento de Matemática da UFMA desde março de 1980, após ser aprovado por Concurso Público. Nascido na capital maranhense, Saraiva é Doutor em Matemática pela Universidade de São Paulo.